sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Sessões na Voz do Operário | Sábados | Fevereiro-Abril 2009



ROBERTO ROSSELLINI

E O NEO-REALISMO


CALENDÁRIO


28.02.09

18h00
Roma Città Aperta (Roma, Cidade Aberta)

Itália,1945, 98’, p.b | legendas: português

7.03.09

16h00
Paisà (Libertação)

Itália, 1946, 126’, p.b | legendas: francês

Troféu ANICA, Veneza 1946.

Episódios: 1.º - 10 de Julho de 1943, Sicília; 2.º - Nápoles; 3.º - Roma, 4 de Junho de 1944; 4.º. Florença; 5.º - Apeninos Emilianos; 6.º - Inverno de 1944, Porto Tolle, Delta do Rio Pó.

18h30
Germania Anno Zero (Alemanha, Ano Zero)

Itália/França/Alemanha, 1947, 78’, p.b | legendas: francês

14.03.09

16h00
L’Amore – Due Storie d’Amore (O Amor)

Itália, 1947-1948, 78’, p.b | legendas: português
1.º episódio: Una Você Umana
2.º episódio: Il Miracolo
Inédito comercialmente em Portugal.


18h00
Stromboli, Terra di Dio (Stromboli)

Itália/EUA, 1949-1950, 100’, p.b | legendas: português

21.03.09

16h30
Francesco Giullare di Dio (O Santo dos Pobrezinhos)

Itália, 1950, 75’, p.b | legendas: português

Inédito comercialmente em Portugal. A partir de 1952 fez o circuito de exibição dos cineclubes.

18h00
Europa 51 (Europa 51)

Itália, 1951-1952, 114’, p.b | V.O. sem legendas

28.03.09
16h00
Viaggio in Italia (Viagem em Itália)

Itália / França, 1953-1954, 81’, p.b | legendas: português


18h00 Die Angst / La Paura (O Medo)

Alemanha / Itália, 1954, 73’, p.b | legendas: português


4.04.09

16h00
Il Generale Della Rovere (O General Della Rovere)

Itália / França, 117’, p.b | legendas: português

18h00
Era Notte a Roma (Era Noite em Roma)

Itália / França, 1960, 114’, p.b | legendas: castelhano


18.04.09
17h30
Viva l’Italia (Viva Itália)

Itália / França, 129’, cor (eastman) | legendas: francês
Inédito comercialmente em Portugal. Exibido no circuito cineclubista.

Sessões na Voz do Operário | Sábados | Fevereiro-Abril 2009

Auditório João Hogan

FLYER - Visualizar/Download

Entrada livre


Programa de Apoio à Exibição Não Comercial (REDE 2009)

Classificação etária geral: maiores de 16 anos.
O programa pode ser alterado por motivos imprevistos

ROBERTO ROSSELLINI



Nasceu em 1906 em Roma, onde morreu em 1977. Na memória dos cinéfilos (críticos, cineclubistas) portugueses, que participaram nos movimentos culturais cinematográficos do pós-guerra até aos anos 70, subsiste a velha querela que, no interior do neo-realismo – tanto aqui como no estrangeiro – opunha as tendências rosselliniana (de raiz metafísica) e viscontiana (de empenhamento marxista), tendo como centro de gravidade os paradigmas da poética de Zavattini, reconhecido guru do neo-realismo. Paradigmas que, no essencial, e de irrefutada modernidade, consignavam o recurso aos cenários naturais, sobretudo exteriores; ambientes populares e miseráveis; actores não profissionais; a representação do real a partir de factos verídicos, ainda que ‘fait-divers’. Um cinema de crónica.
Se na órbita dessa poética zavattiniana, De Sica realizou duas indiscutíveis obras-primas (“Ladrões de Bicicletas”, 1948, e “Humberto D”, 1951), o discurso rosseliniano desliza para o espiritualismo e a religiosidade, na companhia de outros cineastas, de talento díspar, como F. Fellini, A. Lattuada, L. Zampa, P. Germi, L. Comencini. Do outro lado da barricada, moral e ideologicamente, a perspectiva materialista que com Visconti (“Ossessione”, 1943, “La Terra Trema”, 1950, e “Belíssima”, 1951) se desenvolve enquanto denúncia das raízes mais profundas da injustiça social e luta pela vontade de mudar o mundo numa tomada de consciência que só pode ter carácter colectivo. O acólito mais eminente foi, sem dúvida, Giuseppe De Santis (“Caccia Trágica”, 1948, “Arroz Amargo”, 1949, “Não há Paz entre as Oliveiras”, 1950). Mas a lição de Visconti abre, sobretudo, para a modernidade e o singular discurso de um Michelangelo Antonioni.

A Trajectória rosselliniana

Autor de documentários no período fascista, colaborador de um filme de guerra supervisionado pelo próprio filho de Mussolini (“Luciano Serra, pilota”, 1938), realizador de longas-metragens (“La Nave Bianca”, 1941, “Un pilota ritorna”, 1942, “L’Uomo dalla croce”, 1942), filmes oficiais de encomenda em que a propaganda fascista é disfarçada por um ambíguo pacifismo, o labor cinematográfico de Rossellini na derradeira década do consulado mussoliniano em nada fazia prever a explosão de “Roma, Cidade Aberta” (1945) e “Libertação” (1946) – filmes que marcam historicamente o nascimento do neo-realismo italiano – não considerando “Ossessione” (1943), de L. Visconti – testemunhos dolorosos do sofrimento, morte e sobrevivência de um povo humilhado, mensagens de esperança e de fraternidade expressas de forma espantosamente pura, distante do caligrafismo e do pendor melogramático, dois veios que nunca deixaram de penetrar o território fílmico transalpino, que nunca deixaram de alimentar potentes tendências do cinema italiano do pós-guerra.
Para Rossellini, o cinema era, sobretudo, “a inocência e a inteligência do olhar.”, o que o opunha – para além de indesmentíveis divergências ideológicas – ao rigor estético de Visconti ou mesmo ao populismo de De Sica.
Ao suicídio de um jovem (“Alemanha, Ano Zero”, 1947), sucede o espiritualismo cristão (“Amor”, 1948, e “O Santo dos Pobrezinhos”, 1950), a commedia del’arte (“La maccquina ammazzacattivi”, 1952), a fábula satírica (“Onde Está a Liberdade?”, 1953, com Totó). Provavelmente o menos neo-realista de todos os neo-realistas, só retomará essa temática passados quinze anos, com “O General Della Rovere” (1959) e “Era Noite em Roma” (1960), precisamente quando decide enveredar pela carreira televisiva.
O casamento com Ingrid Bergman e os filmes com que celebrou o enlace (“Stromboli”, 1949, “Europa 51”, 1952, “Viagem a Itália” e “O Medo”, ambos de 1954), obrigam a recorrer à co-produção. Rossellini mantém o despojamento estilístico ante os dramas dos escombros físicos e morais da guerra; a liberdade através de Deus corporizada em Ingrid Bergman, a sua heroína; os apólogos, ao mesmo tempo realistas e fabulistas, próprios do comportamento franciscano; as soluções contraditórias de uma Europa que procura reerguer-se das ruínas no rescaldo da luta pela liberdade contra a opressão. Ou seja. Rossellini não se confina aos limites da sua Itália (território e povo): ao longo de quase duas décadas recorre a personagens estrangeiras para nos restituir o “olhar” pessoal sobre um mundo em mudança. O fracasso total do seu derradeiro filme, “Anima Nera” (1962) leva-o a abandonar definitivamente o cinema e a escolher um novo modo de expressão: a televisão.
“Viva Itália” – com que encerramos o ciclo – marca o seu primeiro trabalho televisivo.
Rossellini opta assim por uma outra preocupação: o didactismo.
Do mesmo passo procura não só reflectir a nova tecnologia da imagem, mas também, e sobretudo, reflectir sobre os limites e as virtualidades de uma caixa que potencialmente permite a entrada do mundo em nossa casa.

Manuel Neves.