domingo, setembro 21, 2008

Ciclo “As Dores do Crescimento – Escola, Família e Sociedade”






















Sessões no Auditório João Hogan - Voz do Operário


4.10.08
17h00 Zero em Comportamento
(Zero de Conduite), de Jean Vigo, França (1933)
c/ Jean Dasté, Robert le Fon, Delphin Du Verron.
Alunos: Louis Lefèvre, Gérard de Bédarieux, Constantin Goldste Kehler, Gilbert Pruchon. p.b., 42’, legendas em espanhol
Proibido pela censura francesa em 1933. Reposto em 1945 após a Libertação.

18h00 Os Coristas
(Les choristes), de Christopher Barratier, França (2004)
c/ Gérard Jugnot, François Berléand, Jean-Baptiste Maunier, Jacques Perrin, Jean-Paul Bonnaire, Maxence Perrin, Didier Flamand, Marie Bunel, Carole Weiss.

cor, 92’, legendas em português
Nomeado para 2 “Oscars: Melhor filme estrangeiro e Melhor canção original.

11.10.08
16h30 Sciuscià
(id.), de Vittorio De Sica, Itália (1946)
c/ Franco Interlenghi, Rinaldo Smordoni, Aniello Mele, Enrico De Silva.
p.b., 86’, legendas em espanhol
“Oscar” do Melhor filme estrangeiro, 1947.

18h30 Até Amanhã, Mário
de Solveig Nordlund, Portugal (1993)
c/ João Silva, Vítor Norte, Conceição Pereira, Paulo César Barros, José Cândido Andrade, Hélder Abreu.
cor, 76’

18.10.08
16h30 Liam
(id.), de Stephen Frears, Grã-Bretanha (2000)
c/ Anthony Borrows, Claire Hackett, Ian Hart, Ann Reid, Megan Burns, David Hart, Russell Dixon.
cor, 91’, legendas em português

18h30 Fuga Sem Fim
(Runnig on Empty), de Sidney Lumet, USA (1988)
c/ River Phoenix, Judd Hirsh, Christine Lathi, Martha Plimpton, Jonas Abry, Ed Crowley, LM Kit Carson, Steven Hill, Augusta Dabney.
cor, 116’, legendas em português

25.10.08
16h30 Ser e Ter
(Être et avoir), de Nicholas Philibert, França (2002) | Documentário.
c/ Georges Lopez (o professor); alunos: Alizé, Axel, Guillaume, Jessie, Jojo, Julien, Laura, Létitia, Marie-Elizabeth, Nathalie, Olivier; habitantes de Saint-Etienne sur Usson (Puy-de-Dôme). cor, 104’, legendas em português

18h30 Juventude Inquieta
(Rumble Fish), de Francis Ford Coppola, USA (1983)
c/ Matt Dillon, Mickey Rourke, Diane Lane, Dennis Hopper, Diana Scarwid, Vincent Spano, Nicolas Cage, Christopher Penn, Tom Waits.
cor & p.b., 94’, legendas em português


AS DORES DO CRESCIMENTO – ESCOLA, FAMÍLIA E SOCIEDADE

Quando os problemas da educação constituem questão central da nossa democracia, seja no aspecto político-administrativo em geral, seja nas orientações sectoriais – sistemas de aprendizagem de saberes e competências, programas curriculares, critérios de avaliação e exames, absentismo e insucesso escolares, recrutamento e carreiras docentes, instalações e distribuição geográfica, ensino público e privado, novas tecnologias – impõe-se reflectir sobre tão complexa problemática. A questão respeita, por isso, tanto ao legislador, como aos órgãos executivos nos seus diversos graus, quanto à sociedade no seu conjunto.

A alegoria contida na designação do presente ciclo – As Dores do Crescimento - Escola, Família e Sociedade – possui uma latitude que inibe a desconsideração de qualquer dos fios que se entrecruzam no nunca pacífico processo da passagem da idade infantil até à idade adulta. E, no concreto, a pletora de sugestões que esses fios carreiam nas oito obras que integram o ciclo não sofre qualquer processo redutor (claro que cada uma delas vale por si mesma, muito embora, descontadas específicas acentuações, nunca ignorem a multiplicidade de tais fios, biológica, psicológica, educacional, familiar-social, ideológica, política…).

Iremos, assim, ser confrontados com visões das mais ricas sobre o universo infanto-juvenil na sua dinâmica com o mundo adulto: no âmbito da escola, da família e da própria sociedade. E isto através de uma pluralidade estilística que vai desde (aparentes) naturalismos – Liam e Ser e Ter – até o paradigma neo-realista – Sicuscià – e seu indesmentível e recente avatar que é Até Amanhã, Mário; desde a narrativa política – Fuga Sem Fim – até a poética libertária e anarquista – Zero em Comportamento; desde a denúncia da prepotência – Os Coristas – até o mais subtil dos onirismos – Juventude Inquieta.
De lamentar as habituais dificuldades na obtenção de cópias, que o suporte digital tão-só veio atenuar: um ciclo assim não deveria dispensar, por exemplo, O Rapaz dos Cabelos Verdes, de Joseph Losey (1949), A Sombra do Caçador, de Charles Laughton (1954), O Tesouro do Barba Ruiva, de Fritz Lang (1954), Fúria de Viver, de Nicholas Ray (1955), Os 400 Golpes, de François Truffaut (1959), Esplendor na Relva, de Elia Kazan (1961) ou Aos Nossos Amores, de Maurice Pialat (1983).


Mas debrucemo-nos, ainda que em breves linhas, sobre os títulos.
Zero em Comportamento, de Jean Vigo, alterna o lirismo e o fantástico, o real e o sonho, a inseparável aliança das ideias de amor e revolução, a violência da sociedade burguesa e a insurreição contra a mesma. Vigo, um dos maiores poetas do cinema, funde, num contexto de internato para rapazes, a subjectividade do olhar infantil com as explosões panfletárias, alternando lirismo e fantástico.


Sete décadas depois, Christopher Barratier, com Os Coristas, retoma a clausura do “internato”, onde impera o sistema repressivo de um director, Rachin, tão ambicioso quanto prepotente. O protagonista, professor de música desempregado, é admitido como vigilante, e através da música, da magia do canto coral, transformará comportamentos, sentimentos e o próprio futuro dos jovens asilados.

Inequívoco produto da poética de Zavattini, Sciuscià (corruptela do inglês ‘shoe shine’, engraxador), realizado por Vittorio De Sica, é uma obra-chave do neo-realismo italiano que aborda o tema do mal-estar social numa Itália sob as ruínas da guerra. Os jovens Pasquale, órfão, e Giuseppe vivem de engraxar sapatos a soldados americanos. Fábula pungente, quase uma alegoria, sobre a pureza e as sevícias, o cinismo e a crueldade do mundo (a prisão), Sciuscià descreve sem concessões um país em ruínas, sem abdicar do discurso lírico.


Um símile olhar, radicando em idênticos paradigmas técnico-formais (De Sica-Zavattini), perpassa por Até Amanhã, Mário, filme português de Solveig Nordlund. Passado na ilha da Madeira, paraíso turístico a que subjaz a miséria (escondida), a pedofilia (organizada), a mendicidade (folclórica) de miúdos da rua, o filme, não obstante o empenhamento social – subtil, sage, não ostentado –, trabalha num registo de despojamento a todos os títulos admirável.

Regressando ao olhar infantil, Liam, de Stephen Frears, constitui-se em pungente visão de uma criança de sete anos, de família católica operária na Liverpool da Depressão dos anos 30. Liam testemunha o desemprego do pai, a falta de dinheiro, o recurso à casa de penhores, a miséria familiar. E ante o despotismo eclesiástico sofre os tormentos espirituais advindos das aulas de catequese. É nesse caldo de cultura de desemprego, fome, desespero e desesperança que medra o nazismo, induzido pela espiral anti-semita e pela xenofobia contra os trabalhadores imigrantes irlandeses.


Fuga Sem Fim, de Sidney Lumet, retrata o rito da passagem à adolescência do jovem Danny e a errância permanente dos pais, vivendo uma clandestinidade devida a acções terroristas contra o emprego de napalm pelos americanos no Vietnam. Um jovem que anseia por relações normais na vida escolar e no namoro, vê ser-lhe coarctada a possibilidade de desenvolver o seu talento musical, compelido a uma vida nómada, mudando permanentemente de casa e de cidade, sem deixar raízes.

Assumindo a via documentarista, Nicolas Philibert realiza um belo filme, Ser e Ter, sobre a educação. Georges Lopez, professor numa escola primária na região de Auvergne, em pleno meio rural, não só transmite aos seus alunos os saberes curriculares mas também suscita o desenvolvimento do intelecto, faz desabrochar a sensibilidade, apela para o sentido de cidadania: educa, em suma. Treze crianças, com idades que vão dos 4 aos 10 anos, formam três distintos grupos etários. Com particular afecto, o professor trabalha individual e colectivamente as classes, nunca levantando a voz, e é olhado como um pai especial, alvo de respeito e confiança – dos alunos e seus familiares. Uma lição não só para os educadores de infância mas também, e especialmente, para os lados do ministério da 5 de Outubro…

Com Juventude Inquieta, de Francis Ford Coppola, penetramos na marginalidade juvenil. Rusty James, um jovem a quem não abunda a inteligência mas aspira a tornar-se chefe do bando do seu bairro, nutre uma desmedida idolatria pelo irmão mais velho, conhecido por ‘Motorcycle Boy’, que, cansado e desiludido da aventura da Califórnia, regressa à clausura do sítio onde fora rei. Cônscio finalmente da inutilidade da sua luta anti-social, vê desmoronar-se o mito que o sustinha – a rebeldia. É preciso saber renunciar, diz ele ao irmão mais novo, antes de morrer. Juventude Inquieta forma com Os Marginais um díptico, sendo ambos adaptados de romances de S. E. Hilton. A recriação do filme clássico americano sobre a adolescência em Os Marginais dá lugar a um onirismo de inusitada modernidade em Juventude Inquieta, inspirado no filme negro dos anos 40, em que da imagem a preto e branco emerge a cores o dourado dos peixes de aquário.

Organização:
ABC CINE-CLUBE DE LISBOA
Rua do Conde de Redondo, 20, 3.º Dto
e-mail: abccineclube@hotmail.com
http://abc-cineclube.blogspot.com

A VOZ DO OPERÁRIO
Rua da Voz do Operário, 13
Tel. 218 862 155
www.soc-voz-operario.rcts.pt

Patrocínio:
ICA | MC
Programa de Apoio à Exibição Não Comercial (REDE 2008)

Apoios:
JUNTA DE FREGUESIA DE SÃO VICENTE DE FORA
SPGL – Sindicato dos Professores da Grande Lisboa
CAMPO DIGITAL

Sessões no Auditório João Hogan
A Voz do Operário
Rua da Voz do Operário, 13
Tel. 218 862 155

Entrada livre
Classificação etária geral: maiores de 16 anos.

O programa pode ser alterado por motivos imprevistos.



Sem comentários: